a) A poesia teria o poder de tornar a realidade movediça ou de expandir a periferia da realidade até confundir as fronteiras. Mas a potência da poesia é de ordem negativa, não atua no plano dos sistemas, só é possível onde a linguagem fracassa.
b) Entre nomes, imagens e coisas há zonas de transição ou inteiramente intocadas pelos acordos e litígios da linguagem. Esse “entre” é a forja do poético. A erupção da poesia traz à superfície o que se tornava oculto pela pressão do instrumental.
c) É a poesia que recupera a fecundidade de um signo higienizado pela linguagem oficial.
d) Entre a poesia e o poema existe o corpo. A poesia migra ao poema como extensão desse corpo que arranja seus ritos e ritmos, resíduos de imagem-som alcançados pela percepção, refeitos em ideia musical. Dessa experiência ultracondensada, lança enigmas incandescentes à realidade, recodifica legendas.
e) Ia partir daqui e falar da poesia como princípio das metamorfoses. Aí fui parar num filme, o sob a pele, poesia intensa, pra adensar o imaginário.
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