Antes que o céu desabe – comentários e sinopse

Adquira AQUI seu exemplar de Antes que o céu desabe (GOUVEIA, Maiara. São Paulo: Editora Minimalismos, 2024)

Ana Rüsche assina o texto de orelha do Antes que o céu desabe:

Descobrir destinos diferentes do apocalipse é um dos motes de Antes que o céu desabe. O longo ensaio de Maiara Gouveia discute as possibilidades de escrever e de pensar a partir da obstrução da capacidade de sonhar no sombrio Antropoceno, com seus futuros nublados pela atual crise climática.

A autora passa por concepções filosóficas, feministas e ecológicas de autorias como Ailton Krenak, Bianca Santana, Donna Haraway, Jason Moore, Jaxuka, Silvia Federici, Raquel da Silva Silveira, entre outros nomes, além de Davi Kopenawa e Bruce Albert, para discutir como “a misoginia e a violência contra as formas e as forças diferentes das que se consideram humanas têm as mesmas origens ideológicas”, o nó colonial que amarra e imobiliza tantas formas de pensar.

Aponta como a poética também pode ser integrada ao olhar ecológico, como uma saída, “um deslocamento ontológico”. Comenta, de forma crítica, algumas obras literárias, a exemplo de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, que “coincidem na tentativa de refazer o olhar numa espécie de fusão com algo diferente da civilização”.

No livro, é palpável como sua experiência como poeta dita o voo ensaístico. Tanto na maneira de articular frases contundentes quanto na forma de construir um raciocínio aberto, costurando cosmovisões, mitologias, filosofias e imagens, sem perder a beleza do texto. Leitora de um mundo inteiro, sua experiência mostra-se nas eleições de referências de diferentes territórios, procurando costurar uma língua local das humanidades, sem esquecer dos outros seres vivos que compartilham seu tempo na Terra conosco. O livro, apesar do tema sombrio, apresenta uma esperança radical nas gentes e nos sonhos, sem abrir mão da poética dos dias. Afinal de contas, segundo a poeta, “ecologia é estar presente e também é uma questão de linguagem”.

Ana Rüsche. Escritora, realiza pesquisa de Pós-Doutorado sobre ficção científica e mudança climática no depto. de Teoria Literária e Comparada na Universidade de São Paulo.

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O texto da Laura Navarro, publicado também em Banquete – Jornal de Resenhas e Crítica Literária:

Em Antes que o céu desabe, Maiara Gouveia nos joga questionamentos e possibilidades que podem surgir deles. Já conhecida por sua poesia, marcada pela exploração de uma linguagem que é quase como um gesto contrário à cultura neoliberal e dita “civilizada” – Gouveia coloca como provocação principal uma crítica às noções embutidas no binômio homem-natureza, dicotomia que molda um tipo específico de relação entre os povos e com as outras formas de vida.

Partindo da ideia de que, ao nomearmos o nosso mundo, estamos atribuindo uma função a ele, a autora propõe pensar nas implicações de um nome. Afinal, chamando (por exemplo) a terra de “recurso natural”, nós a transformamos num objeto, tal como fazemos com as mulheres e com os grupos dissidentes. A reforma do pensamento que é, então, proposta por Gouveia – que dialoga com os ideais do Bem Viver e o trabalho de várias autoras ecofeministas e de mestres como Davi Kopenawa e Ailton Krenak – começa a partir do ato coletivo de repensar a linguagem. Ao longo desta obra, que abrange desde crise climática à opressão de gênero, a autora mostra a urgência em se pensar a palavra –  esta, capaz de criar novos valores, novos afetos e novas maneiras de encarar o nosso mundo.

*Laura Redfern Navarro é poeta, jornalista, fotógrafa experimental e crítica literária. Graduada pela Faculdade Cásper Líbero, pesquisa corpo e linguagem nas vicissitudes do feminino. Foi vencedora do ProAC em 2022 com o projeto “O Corpo de Laura”, que consiste em um livro e uma plaquete. 

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O comentário do Victor Grizzo:

Quantas Cosmogonias poderiam existir se tivéssemos outros registros para além do humano? Diferentes grafias, fonemas, pontuações. É preciso evocar a poeta. Nestas folhas, fotossíntese virou arqueologia. Aquele rio de fora também é o de dentro. Maiara escreve aqui com sua câmera analógica, daquelas que precisam de tempo para revelar as fotos. Cada frame revelado é também uma generosa partilha, antes que o céu desabe.

*Victor Grizzo (nasceu na cidade de Jaú, interior de São Paulo. Graduado em História pela  Universidade de São Paulo e Especializado em Desenho pelo Departamento de Artes  Visuais da ECA-USP. Em 2016 foi premiado pelo concurso realizado no MIS (Museu de  Imagem e do Som) por ocasião da exposição “O Mundo de Tim Burton”. Sua obra foi  selecionada pelo próprio Tim Burton para ser exposta no museu. Publicou seu primeiro  livro em 2019 “Luz dos Olhos Meus”. Já realizou e participou de inúmeras exposições  como artista visual. Em paralelo à carreira de artista, trabalha como educador e escritor. Dedica sua vida principalmente a trabalhar em seu ateliê pintando, ilustrando e  escrevendo novas histórias.

De Ângela para Celso

(um comentário afetivo)

Uma tarde você chegou com uma pasta nas mãos muito animado, feliz, com um projeto-sonho. Pai, você já via e previa a importância vital da questão ambiental. O embrião do seu livro tinha o título Desmatamento, com fotos autorais, mapas apontando o crescente desmatamento ao longo das décadas, suas consequências, a situação dos povos originários, a importância das árvores, as questões de saúde pública. Infelizmente você não conseguiu dar seguimento a tal objetivo e, passados anos contigo no seu leito de morte, prometi que o faria por ti.

Durante um curso conheci a Maiara (*) e algo aconteceu, um sopro, a certeza de que aquele embrião de livro se gestaria nela, se realizaria através dela, de forma mais séria e poética. Depois de uma pandemia e de um processo de gestação, falta muito pouco para que as pessoas saibam o que você já sabia há muito tempo: é urgente encararmos a crise climática e repensarmos nosso modo de estar no mundo.

Que orgulho ser fruto dessa raiz tão forte!

Maiara, sem você a concretização daquele sonho-promessa não seria possível. Obrigada!

Ângela Okano (1982) nasceu em Ribeirão Preto (SP). É bacharel em Direito e, hoje em dia, estudiosa de filosofia, feminismo e questões ambientais. É casada e mãe de três. Deseja escrever e compartilhar o pensar e o sentir que nela habitam.

Maiara Gouveia (1983) nasceu em São Paulo (SP). Publicou em 2009 seu livro de estreia, o Pleno Deserto   pela Nephelibata (SC). Ainda com o título provisório O Silêncio Encantado, esse trabalho foi finalista do Prêmio Nascente (USP). Em 2013, através do selo Lemón Partido, a Editora Proyecto Literal – da Cidade do México – publicou Antes que se rompa el hilo de plata (Antes que se rompa o fio de prata): uma edição bilíngue com tradução ao espanhol do poeta mexicano Fernando Réyes, prefácio do poeta chileno Javier Norambuena e ilustrações da artista e filósofa Márcia Tiburi. Em 2019, a Editora Primata lançou em São Paulo o seu livreto (plaqueta)  E o resto é barulho de água, junto com os de mais 7 autoras, selecionadas entre mais de cem poetas. Depois de três livros na poesia, publicou Dobradura, seu primeiro romance infantojuvenil, lançado em 2022 pelo selo Tá de sol Tá de lua da Editora Urutau (SP). Maiara também colabora com ensaios, artigos e poemas em diversas revistas, jornais e antologias nacionais e internacionais. Antes que o céu desabe é seu primeiro livro no gênero ensaio (sinopse AQUI), publicado pela Editora Minimalismos em 2024. Leia AQUI o comentário da poeta e jornalista Laura Navarro a respeito de Antes que o céu desabe. Pré-venda AQUI.