Uma artista, segundo ela mesma, habitante do “país das maravilhas”. E de que matéria é feito o solo desse país? De literatura abismada: um feminino em construção (ou desconstrução?) que, depois da queda livre no abismo colorido entre o que se diz real e o talvez onírico, fica diante de súbito atraso na forma de um coelho. E falante. E com pressa. A partir daí, o feminino corre por bifurcações de uma identidade movediça e perguntadora.
O país das maravilhas indaga e confronta. O palavreado dos adultos: os discursos. Seriam só disfarce à ignorância fundamental? Sabem mesmo quem são, onde estão e o porquê? Ou também estão zonzos de tanto não saber*? Quem vem de fora tem coragem de perguntar. A infância tem coragem de perguntar. Não sabe o que é violência, mas pressente (e descreve em sua linguagem) a hostilidade esquisita do instituído. O país das maravilhas não é fuga, mas um tipo particular de mergulho no magma do real. A linguagem. A linguagem.
Em Anfuso, com o figurativo e o não figurativo, a mistura de técnicas, os tons pastéis… Algo que eu chamaria de “Certo | incerto feminino através do fabuloso”. Ou, para pensar outra vez em Lewis Carroll: “Certo | incerto feminino através do espelho: as fábulas de Elisa Anfuso”.
Refinada e impactante.
* (não saber: esse espanto que abre espaço à invenção)