
A máscara traz ao mundo visível certas presenças do invisível. Quem veste a máscara encarna a força ou o espírito que pretende conter enquanto anima. Essa é a função mágica da máscara nas tribos ancestrais: uma função ritualística.
O mascarado esconde o próprio rosto e se torna corpo de uma voz ao mesmo tempo particular e comunitária. Se é a bruxa ou o espírito benéfico ou a criatura protetora dos bichos, é uma voz anônima em nome de um grupo e que só existe incorporada e no instante do rito.
O rosto não se apaga, cede seu lugar à presença do outro. Onde a nudez do rosto silencia, a máscara pode dizer o que diz. Mas se o rosto, ele mesmo, é o ponto de encontro da matéria ancestral, não seria a máscara uma espécie de alteridade-extensão?
Não a extensão do rosto de um indivíduo, mas o duplo do que o rosto, despido da transfiguração pelo onírico ou o sagrado, não diz.
A máscara é tudo o que o rosto não diz.
São Paulo, 29 de setembro de 2018.